Brasil; Qualquer dia do ano; de noite, de tarde ou de manhã
Queria viver mais um dia
Mas em vez de nascer, eu morria
Você não sabe como foi implorar
Pra esse médico assassino não me matar
Com um perfurador me mandou pro céu
E ainda me estraçalhou que nem papel
Eu era filho de mané
Ou será que era um zé
Não importa se foi mal ou se foi bom
Eu queria ter escutado em alto e bom som
"Você é o filho que eu desejo, esse é o meu rebento
Seu pai tá orgulhoso, meu filho é bem esperto"!
Mas ele preferiu fugir, foi pro inferno
Mas vai se arrepender um dia, eu espero
Quem sabe se eu fizesse uma oração
Minha mãe não pensaria que eu era uma aberração
Você não sabe, mãe, se eu seria um ladrão
Se eu ia usar droga ou cair na detenção
Sei que você não é grã-fina
Mas eu seria gente fina
Viver um dia a menos ou um dia a mais
Sei lá, tanto faz, os dias são iguais
Eu fiz de tudo pra você me escutar
Mesmo assim cê preferiu me matar
Não quis saber se eu era homem ou mulher
Botar pra fora foi mais fácil, né?
Ficou com medo da família te pegar pelos pés
E fazer você viver cobrando 10,00
Numa vida promíscua, sem crença
Cada cliente, uma doença
Cada doença, um motivo, uma história de lágrima, sangue, vidas e glórias, abandono
Miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo
Misture bem essa química, pronto: a vida vira um tormento
Lamento se eu fui gestor de todo esse pranto, não era pra tanto
O problema é social, minha mãe, fora disso eu sou santo
Ratatatá, só pra terminar, não adianta mais, mamãe, você chorar
Não vou mais atrapalhar cê ir pro reggae
Faça amor de camisinha, você consegue
Perdoar o que cê fez a gente tenta
Não ter a chance de nascer, a gente só lamenta.
Miolo
Paródia inspirada na música "Diário de um detento", do Racionais MC's.